24 de xuño de 2009

PERISCÓPIO SOCIAL

ONDE PÁRA O DINHEIRO DO FERRY?





Pedro Ribeiro / Caminha


Ao que parece, terminou a novela do"caso ferry" em que, segundo a imprensa local, a autarquia terá sido lesada em 18000€ no período compreendido entre Agosto e Dezembro de 2008.
São várias as questões que este inquérito levantou e que, os munícipes, não devem deixar morrer sob pena de sermos todos coniventes com actos e práticas que revelam a gestão incompetente da autarquia.
O nosso dinheiro parece ter sido utilizado por alguém indevidamente. Como democratas, aceitamos (tendo escolhido ou não) e confiamos a liderança do município na esperança que o interesse dos munícipes seja sempre salvaguardado." Caminha contra a crise", deve começar pelo rigor e disciplina na utilização racional do dinheiro dos contribuintes assim como o uso da transparência dos actos de governo municipal.
Daquilo que veio a público, apurou-se o desvio de 18000€ dos cofres da autarquia por parte de uma funcionária num período continuado de quatro meses. A questão mais óbvia será: como é possível, durante tão longo período de tempo, ter este comportamento sem ser detectado?
Como é do conhecimento geral, as organizações (inclusivamente as câmaras municipais) estão dotadas de um quadro de pessoal que, entre si, formam a cadeia de comando que encontra o líder no topo do poder organizacional. É a isto que chamamos organigramas das instituições. Ora tais organigramas não servem só para distinguir os chefes dos outros, os "doutores" do "Zé Povinho" ou, tão pouco, exibir diferenças salariais e de estatuto social. Esta estruturação existe para que se possam atribuir funções e exigir responsabilidades aos protagonistas nos momentos certos. Desta feita - e pelo que parece - a culpa irá morrer com a funcionária (é sempre a velha história do "mexilhão") resta-nos acreditar que o Ministério Público esteja munido de toda a documentação necessária para que este caso fique definitivamente esclarecido.
Como ainda não foi explicado o caso aos munícipes, o boletim municipal seria o melhor veículo para demonstrar que "estamos em boas mãos", é natural que se fale e especule até que o povo se esqueça do episódio… perdido num qualquer evento gastronómico de pré-campanha. A participação cívica responsável deve forçar - nestes tempos em que nos pedem para apertar o cinto - a estreitar o cerco àqueles que nos governam, a fim de se evitarem desmandos que serão sempre justificados pela crise (nacional/internacional).
Fazendo fé no que tem sido noticiado, a respectiva funcionária terá recebido como pena oito meses de suspensão. Esta decisão pode constituir um mau exemplo do exercício democrático. Vejamos, em qualquer parte do mundo um trabalhador que alegadamente desvie 18000€ ao seu patrão seria, em primeiro lugar, obrigado a devolver o dinheiro desviado e, devido à quebra de confiança com a entidade patronal, despedido.
Neste caso, ficámos todos a escutar o silêncio ensurdecedor da Sra. Presidente da Câmara que, há muito, deveria ter vindo a terreiro explicar o ocorrido. O seu colega, Alcaide de A Garda, não abdica do dinheiro desviado e exige a sua devolução. É que fazendo contas, no caso de o capital não ser devolvido à autarquia, a funcionária ganha - nos oito meses de suspensão - 2250€ por mês… o que constitui um ganho de aproximadamente três vezes mais o seu vencimento. Levando-nos a concluir que, assim sendo, além do falatório público onde, com toda a certeza o seu nome será falado de forma pouco abonadora, nada mais lhe sucederá.
Pode perguntar-se sobre a razão de também não haver despedimento… essa é uma questão mais difícil porque mexe com decisões que já não são empresariais mas políticas: ano de eleições autárquicas; os políticos temem a vitimização e o aproveitamento da situação por parte dos seus adversários ("então vocês querem mandar alguém para o desemprego? Nós não somos assim, somos compreensivos com os nossos funcionários."); e, por último, não lhes dói no bolso porque continuam a receber o seu salário gerindo dinheiro que não é deles.
Obviamente, que não estamos aqui a afirmar que esta é a situação que se terá passado no "caso do ferry" pois, queremos acreditar que o dinheiro vai ser devolvido, os galegos receberão a sua parte, a funcionária cumprirá a sua suspensão e será reintegrada pois os seus actos terão uma explicação clara filha de uma infeliz ocasião. Daí que, com expectativa, se aguarda a posição dos partidos políticos que decidiram esta sanção (PSD e PS, recordemos que a votação foi de 6 votos a favor e 1 contra) para se perceber a brandura da sanção e se foram apuradas as responsabilidades dos superiores da respectiva funcionária. É bom que se ponha fim ao "nacional porreirismo", de querer o poder "a todo o custo" sob pena de estarmos cada vez mais longe de concretizar os ideais de Abril.




Fonte: Terra e Mar

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